ARTE E CULTURA DE MASSA
Há 200 anos, o mesmo Schiller que defendia a educação
estética alertava:
O curso dos acontecimentos deu ao gênio do tempo uma
direção que ameaça afastá-lo mais e mais da arte ideal. Esta
precisa abandonar a realidade e elevar-se, com decorosa ousadia, para
além da necessidade, pois a arte é filha da liberdade e quer ser
legislada pela necessidade do espírito, não pela carência da
matéria. Hoje, porém, a carência impera e curva em seu jugo
tirânico a humanidade caída. O proveito é o grande ídolo do
tempo; quer ser servido por todas as forças e cultuado por todos os
talentos. Nesta balança grosseira o mérito espiritual da Arte não
pesa, e ela, roubada de todo estímulo, desaparece no ruidoso mercado
do século.
SCHILLER, Friedrich. Sobre a
educação estética, p. 35.
Apesar de escrita há cerca de dois séculos, essa
observação de Schiller é, mais do que nunca/ atual. O autor
considera que há uma arte ideal, cuja função seria servir à
necessidade do espírito humano e não ao "mercado do século",
ou seja, aos interesses econômicos que determinam o que pode e deve
ser feito para atender à demanda de mercado.
Schiller está se referindo a um fenômeno contemporâneo
que já despontava à sua época: a indústria cultural, termo
cunhado por Adorno.
De acordo com Adorno, também a arte e os bens culturais
estão submetidos aos interesses do mercado e, dessa forma, não
passam de negócios, como qualquer outro produto. O cinema
produzido nos Estados Unidos, por exemplo, é em grande medida
uma vitrine para vender mercadorias.
Os personagens principais de seus filmes são
objetos, são os produtos de tecnologia de ponta. Já foram os
automóveis, os jeans, hoje são os computadores e seus painéis
mágicos. O enredo é apenas um pretexto para vender produtos.
JABOR, Arnaldo. Mr. Daley foi à
festa do Oscar brasileiro. Folha de S. Paulo, 15 fev. 2000.
A indústria de lazer e divertimento investe em
determinados produtos culturais que agradam às massas de forma
imediata. Ela não está preocupada com uma educação estética, ou
seja, com a criação de condições para que a maioria das pessoas
possa receber manifestações artísticas de maior qualidade. A
indústria cultural lucra mais com investimentos baratos e com
produções artísticas (músicas, filmes etc.) de pouca qualidade e
de entretenimento fácil, que não trazem para o público nenhum
enriquecimento pessoal e nenhuma contribuição ao
questionamento das coisas, à reflexão.
É a indústria do simples divertimento, da distração
e, por isso mesmo, da perpetuação das atuais condições de
existência. Indústria que pela difusão de suas "mercadorias
culturais" (filmes, músicas, shows, revistas) vende os valores
dominantes do capitalismo, promovendo uma "colonização do
espírito" dos consumidores desses produtos.
Assim, a indústria cultural cria a cultura de massa, ou
seja, cultura destinada às massas. Isso não tem nada que ver
com cultura popular, que seria a cultura própria e espontânea de um
povo, refletindo as suas particularidades regionais e
recuperando a tradição e os valores autênticos de um dado
grupo. A cultura de massa, ao contrário, homogeniza as manifestações
artísticas ao oferecer à exaustão um determinado fenômeno de
venda e veicular sempre o mesmo, o que desestimula o espírito
inovador e empobrece o cenário cultural.
Embora Adorno tenha retratado com pessimismo o cenário
cultural contemporâneo ao apontar como a tecnologia de comunicação
perverte o sentido da arte ao transformar tudo em negócio, ele
reservou ainda uma esperança na existência de uma arte
verdadeira que não sucumba aos ditames do mercado.
Seria uma arte que não acoberta a realidade, que não é
fuga da realidade, mas sim a expressão sensível e crítica de uma
realidade que pode se tornar mais humana. Apesar do embotamento da
sensibilidade e do sufocamento da arte pela indústria cultural, a
arte conseguirá assim sobreviver.
ANÁLISE E ENTENDIMENTO
Conceito de estética e filosofia da arte
1. O que podemos entender por estética?
Explique
2. O que quer dizer o termo indústria cultural?
3. Qual a diferença entre cultura de massa e cultura
popular?
4. O que desestimula o espírito inovador e empobrece
o cenário cultural?
5. Como
SCHILLER considera a arte?
6. O artista determina funções para sua arte: busque
na internet imagens que
represente: política, religiosa, pedagógico,
naturalista e formalista.